Sob o Sol

Sobre o que vou escrever? Ainda nao sei. Talvez sobre tudo sob o Sol...

28/07/2003

Spam

Tento evitar coisas que me levem a receber "spam", mas mesmo assim ele continua a chegar. Deve ser estar naquela categoria a que pertencem a morte e os impostos, a das coisas inevitáveis....

Hoje, recebi um exemplar que chegou a ser divertido. Era o anúncio de um tratamento para aumentar o tamanho do pénis. Não foi o primeiro que recebi, mas este, para além das promessas habituais (mais autoconfiança, mais satisfação), prometia orgasmos mais intensos, controle total da erecção e uma "bigger load every time you ejaculate". Uau!

A "jóia da coroa", no entanto, foi o apelo pungente:

"STOP WASTING YOUR TIME!! ENLARGE YOUR PENIS TODAY!!"

Façam-me um favor, vamos todos parar de perder tempo, e vamos aumentar os nossos pénis. Mulheres, aumentem o pénis mais próximo, ele vai agradecer!

O que é correcto?

O "post" anterior deixa-me uma dúvida: o que é mais correcto fazer agora?

Publicar a crítica neste blog e deixar ao acaso que alguém a leia e, eventualmente, chegue um dia ao conhecimento do autor do texto que critiquei?

Ou enviar um e-mail ao autor, para que ele tome conhecimento, e se quiser me responda?

A segunda alternativa só me desagrada por uma razão: sou um desconhecido, o meu blog foi começado há pouco tempo, e o dele é conhecido, talvez mais do que o meu alguma vez será. Detestaria que isto fosse interpretado como uma estratégia do tipo "atacar alguém famoso para ficar famoso". Não quis atacar alguém, mas sim criticar um texto que me pareceu desagradável. Tampouco faço questão de ser famoso (mas também não vou ser hipócrita e dizer que não seria agradável -- desde que por uma boa razão!).

Mas fora a questão da "fama", se me dei ao trabalho de começar a escrever um blog, foi por duas razões:
1) Gosto de escrever, e suspeito que só escrevendo com frequência se fica bom (ou pelo menos melhor).
2) Vi que havia discussões interessantes na blogosfera, e senti vontade de fazer parte da roda de discussão.

Pois bem, para fazer parte da roda de discussão, parece-me que será um bom começo "abrir a boca". Anos de timidez ensinaram-me que normalmente demora muito até nos pedirem a opinião, e que para quem se habitua a observar calado, a dificuldade de quebrar esse hábito aumenta exponencialmente com o tempo.

Vou enviar esse e-mail. E fica ao critério do criticado responder ou não, e caso responda, se será em público ou em privado.

Cinismo

Numa das minhas leituras do Abrupto vi uma referência sobre música árabe, que segui para um outro blog, o Portugal dos Pequeninos. Neste li algumas coisas mais, ao acaso, tendo o tom geral me parecido crispado e sarcástico em demasia, mas não muito mais que a média de outros blogs que já li. No entanto, houve um texto que me desagradou particularmente, e onde me pareceu que o autor tinha perdido a noção do respeito mínimo pelas pessoas e usado termos muito desagradáveis, generalizações grosseiras sobre milhares, ou milhões, de pessoas. Não chego a fazer parte desse rol, mas ainda assim acho que é desagradável, e se justifica dar algum "feedback" ao autor.

Refiro-me ao texto "A Herança", de 16/07/2003. Nele o autor fala da situação africana, dos pedidos de desculpas estatais apresentados com décadas ou séculos de atraso e da colonização portuguesa em África. Há vários pontos que me pareceram particularmente desagradáveis:


A solidariedade com Timor foi descrita como "baba" e "folclores de rua"
Acho isso muito injusto para com as pessoas envolvidas. Certamente que haverá envolvimentos mais ou menos sinceros, mais ou menos sentidos, e mais ou menos esforçados, mas será sempre melhor que a simples indiferença. E mesmo que o apoio prático não tenha coberto tanto quanto os timorenses precisavam, certamente que eles não menosprezaram esse apoio, da forma que o "Portugal dos Pequeninos" fez.

Os pedidos de desculpa foram classificados como "patéticos"
Concordo que é impossível que os pedidos de desculpa reparem os males praticados. Mas só o(s) destinatário(s) desses pedidos pode(m) julgar se ele é necessário ou não, desejável ou não, útil ou não. Por exemplo, eu vivo actualmente no Brasil, onde existe uma proibição de piadas sobre negros, coisa que durante muito tempo achei um tanto ridícula. "Na prática, de que lhes serve isso", pensava eu, "seria mais útil uma medida concreta, como a criação de cotas para o acesso ao ensino superior ou a cargos públicos, etc". Mas mesmo sobre essa parca medida, relativa às piadas, acabei concluindo que não tenho como avaliar isso. Não sei qual o efeito que isso tem sobre a auto-estima de milhões de pessoas, e sobre o respeito que foram adquirindo. Posso fazer muitas suposições, mas não posso sabê-lo de facto, não posso sentir o efeito, sendo eu branco.

A presença de Portugal em África foi equiparada à presença no Minho ou em Trás-os-Montes
Parece-me muito estranho falar de "presença de Portugal" no Minho ou em Trás-os-Montes, que desde sempre foram parte integrante de Portugal, e onde não consta que haja movimentos separatistas. E admitindo que esta presença, ainda que não seja épica ou gloriosa, não será assim tão terrível, porque seria negativo que a presença em África fosse imbuída do mesmo espírito?

Os portugueses em África foram classificados em bloco como paternalistas e interesseiros
Mais uma vez, parece-me uma generalização excessiva. Mesmo que isso fosse verdade para a maioria, haveria ainda um número significativo que consideravam a África como o lar, mais do que a metrópole.

A miscigenação foi descrita como imposta por Salazar e resultando em "pretas [montadas] à fartazana"
Acho que o que eu já disse antes sobre generalizações e respeito aplica-se em dobro a esta afirmação. Respeito pelas mulheres africanas e suas famílias, respeito por aqueles portugueses que não encaravam as coisas dessa forma, respeito até por Salazar, que podia ser um ditador, mas não consta que fosse um grosseiro. Também duvido que seja rigorosa essa afirmação simplista de que "Salazar impôs a miscigenação", mas deixo essa questão para quem souber mais de história colonial que eu.

Os retornados das ex-colónias foram um "resultado (...) despejado em contentores nos cais de Lisboa"
Uma vez mais, há uma questão de elementar respeito pelas pessoas. Pessoas não são "resultados", e pessoas não são "despejadas em contentores".

"(...) uma profunda e terrível miséria moral e material, sem fim."
Também aqui o "Portugal dos Pequeninos" faz afirmações categóricas, definitivas e totalmente indiferentes aos sentimentos das muitas pessoas que têm consciências dos problemas existentes, mas que têm ainda esperança.

Enfim, pedidos de desculpas podem ser patéticos, mas são certamente melhores que um texto tão repleto de cinismo. Espírito crítico é importante, e o "Portugal dos Pequeninos" tem-o de sobra, mas não deve esquecer o elementar respeito pelos outros.

Mas creio também que, infelizmente, este problema está longe de ser monopólio do PdP. O Abrupto tem uma frase, de 17/7/03, que descreve isso bem, como sendo "essa irritação tão à flor da pele que se encontra em muito blogues disfarçada de convicções".

26/07/2003

Pensamentos mórbidos

Li há pouco um post no blog dum vizinho meu, o Augusto, sobre alguns pensamentos dele sobre a morte. Chamá-los de "pensamentos mórbidos" é correcto, etimologicamente, mas um pouco forte, pelo quanto que o termo tem de identificação com "doentio".

Uma vez por outra também tenho o mesmo tipo de pensamento. Enfim, creio que não mais que o comum dos mortais. Talvez um pouco mais, ultimamente, porque morreu há pouco tempo uma amiga minha. Mas não me apetece falar disso aqui.

Queria só deixar uma palavra amiga para o Augusto e dizer-lhe que espero que esses pensamentos não sejam sugeridos pelos problemas de saúde que ele tem, que podem ser incómodos mas, com o estado actual da medicina, não tornam a expectativa de vida dele menor do que a minha -- que deve estar na média, espero eu :-)

Lingua bífida

Cresci vendo muita televisão, quase indiscriminadamente, mas tive sorte que, ou porque eu era uma criança razoavelmente inteligente, ou porque a televisão não era tão ruim quanto é hoje, isso não me fez muito mal, e até me trouxe uma boa dose de cultura.

Reconheço, contudo, um efeito secundário: desde cedo fiquei bastante blasé; não me choco ou surpreendo facilmente em frente à TV. Emocionar-me, também não muito -- apesar de me parecer que, "com a idade", estou a ficar um pouco mais emotivo. Mas tudo bem, acho isso positivo, ainda me falta muito até entrar no domínio da pieguice.

(Isto do "blasé frente à TV" fez-me lembrar uma curiosidade que quero referir um dia destes no Aventura e Ficção -- porquê ficar pela nota mental se tenho o blog!)

Bom, toda esta introdução para dizer que vi hoje num noticiário uma coisa curiosa, que me apanhou desprevenido ao ponto de exclamar um "Puta que pariu" num volume que não é habitual em mim. Tratava-se de uma reportagem sobre um salão de exposição de tatuagens e piercings, algures numa grande cidade do Brasil. Não esperava ver nada que me surpreendesse muito. Afinal, depois de já ter ouvido falar ou mesmo ter visto algumas fotos de orgãos genitais com piercings, que mais haveria para fazer?

Pois bem, estavam a entrevistar um sujeito com um par de piercings no beiço inferior (deve haver uma palavra melhor que beiço, mas vocês percebem), e eu pensei "bof, trivial". Depois ele puxou com os dedos o lábio para baixo e mostrou uma palavra tatuada na pele interna do beiço e eu pensei "original, mas sem..."
Não tive tempo de terminar a frase. O sujeito disse um modesto "e ainda tem isto", escancarou a boca, esticou a língua e ABRIU-A, como se fosse uma língua bífida de cobra! Aquilo eu não esperava! Soltei um sonoro "PQP", que os meus vizinhos devem ter atribuído a um copo caído ao chão ou coisa que o valha, mas eu queria era que eles tivessem visto... O rapaz tinha a língua cortado pelo meio, talvez numa extensão de 3 centímetros. A língua é um músculo, e parece que mesmo com um corte daqueles mantinha algum funcionamento, porque ao mostrar a lingua ele espetava as pontas uma para cada lado, afastando-as talvez tanto quanto o Mr. Spock afastava os dedos na sua saudação de vulcano. E as pontas ficavam ligeiramente arredondadas. Guuuhhhh!

Fiquei um par de minutos aturdido com a visão e fui contar a um amigo que estava no quarto dele. Ele achou divertido, mas acho que não consegui transmitir bem a impressão que a imagem causava.

Passados mais uns minutos comecei a pensar de forma mais pragmática nas consequências... E as mulheres? Sim, porque se for dar um beijo numa mais desprevenida, e passado um pouco as línguas se encontrarem, e ela sentir de repente que o sujeito tem "duas línguas", e leva um valente susto! E as mais sensíveis e/ou religiosas fujirão berrando "vade retros"! Eh, essa ideia até que é divertida! Também deve dar para afugentar testemunhas de Jeová, só pondo a língua de fora!
Hum, e será que algumas mulheres mais ousadas ficariam com a curiosidade espicaçada? Será que as extremidade separadas são fortes o suficiente, por exemplo, para "abraçar" a outra língua? E se o sujeito fizer sexo oral a uma mulher, que possibilidades isso abre? Será que aquele já apanhou muitas na base da "língua afiada"?

20/07/2003

Blog Irmão

Ainda este blog mal nasceu, e já tem outro irmão, que acabei de criar. É dedicado, precisamente, às pequenas curiosidades que fui descobrindo ao longo da minha estadia naquele a que muitos portugueses chamam "o país irmão", o imenso Brasil.

Pareceu-me que sobre esse tema eu teria muitas pequenas coisas que escrever, e para manter a temática do "Sob o Sol" mais em aberto, resolvi criar um blog separado, mas próximo...

O blog recém-nascido chama-se "Aventura e Rotina", e para saberem mais detalhes, sugiro que vão até lá seguindo o link que está no cabeçalho deste blog.