Sob o Sol

Sobre o que vou escrever? Ainda nao sei. Talvez sobre tudo sob o Sol...

20/12/2004

Fazer as pazes

É de bom senso que certas coisas devem ser ditas pessoalmente. Ou que outras devem ser deixadas por escrito, ou que ficariam complicadas de explicar por escrito. Acaba sendo uma questão de qualidade de comunicação e, ao mesmo tempo, de adequação do meio à mensagem.

Tratando-se de clareza, nada melhor do que uma conversa pessoal. Tem-se o feedback instantâneo da expressão facial do nosso interlocutor. Se isso não for possível, um telefonema sempre preserva o tom de voz. Já a escrita "congela" a mensagem, permitindo uma preparação ou análise mais cuidadosa, mas se o sentido for ambíguo ou as palavras mal escolhidas, só tenderá a prolongar os danos.

Uma comunicação prolongada por escrito pode acabar acumulando mal-entendidos suficientes para pôr em risco uma amizade. Já o verifiquei em várias ocasiões. Infelizmente esqueço-me disso demasiado facilmente e volto a cair nesse mesmo erro.

Vários mal-entendidos depois, Paulo e P1 (cf. o post anterior, "To Care") fizeram as pazes, com uma conversa pessoal, poucos dias atrás. Fazer as pazes é algo muito bom. Mesmo que não resolva todas as questões ou dissipe todas as dores, vale pena. A vida fica melhor, quando estamos em paz com mais uma pessoa. Especialmente se for uma pessoa importante.

06/12/2004

To Care

no sentido de, ao mesmo tempo, gostar de e preocupar-se com alguém, é um verbo que não tem uma tradução cómoda para o português. "Querer bem a" seria próximo, mas soa antiquado ou demasiado melodramático.

Seja como for, às vezes pequenas coisas revelam de forma gritante a diferença entre quem tem ou não por nós esse sentimento.

Eis duas conversas telefónicas que tive recentemente com duas pessoas, chamemos-lhes P1 e P2 (vício de quem estudou matemática por tempo demais...):

P1: E como você tem passado?
Eu: Mais ou menos
P1: O que é "mais ou menos"
Eu: Umas vezes "mais para mais", outras vezes "mais para menos"...
P1: O que é o mais?
Eu: É [etc. etc. etc.]

Eu: [silêncio esperando por "O que é o menos"]
P1: Eu tenho passado muito bem [etc. etc. etc.]

Essa conversa deixou-me uma certa tristeza, mas o momento que realmente me abriu os olhos veio com a segunda conversa, passados um ou dois dias ...

P2: E você, como tem passado?
Eu: Médio, com alguns altos e baixos...
P2: Quais foram os baixos?
Eu: [30 segundo de silêncio, face à súbita evidência de uma abismal diferença, revelada por uma ou duas palavras]
P2: Alô?
Eu: Sim... Desculpa, estava pensar... [etc. etc. etc.]


Mais palavras para quê?...