Cinismo II
O João Gonçalves, do Portugal dos Pequeninos, respondeu de forma educada às minhas críticas e ao meu e-mail. Por isso não gostaria que o título que dei a este post fosse entendido como uma ironia ou classificação da resposta dele, mas apenas como indicação de continuidade do tema.
Mas gostaria ainda de comentar algumas das respostas que ele publicou.
Quando eu disse que achei injusto descrever a solidariedade com Timor como "baba" e "folclores de rua", o Portugal dos Pequeninos respondeu que utilizou uma caricatura, e quando objectei a expressões como pretas [montadas] à fartazana, o PdP respondeu
Mais uma vez ao Paulo escapou o sentido da metáfora. Concedo que a expressão é forte, mas sobretudo julgo que é realista, e obviamente não generalizadora.
É verdade, são caricaturas e metáforas, mas isso por si só não torna essas afirmações mais ou menos aceitáveis. A maioria dos insultos baseia-se em caricaturas ou metáforas. Se eu disser "fulano é um burro" ou "sicrano é um anjo", ambos podem ser considerados caricaturas ou metáforas, por isso uma classificação morfológica ou estilística das palavras não basta para torná-las apropriadas. E também não me parece nada óbvio que a segunda expressão tenha sido realista e não generalizadora.
(...) gostava de ter visto, ou de ainda poder vir a ver, manifestações idênticas por, por exemplo, Angola. Que eu saiba, a miséria, a fome e a corrupção que ali grassam desde 75, não comoveram ainda ninguém tão intensamente.
Isso é um facto. Imagino que o arrastamento da guerra e a evidente corrupção e cupidez das facções envolvidas levem a que a maioria dos observadores acabe culpabilizando o povo angolano pela situação em que está, e solidarizando-se menos com ele. Ainda que a maioria desse povo seja na realidade vítima da situação.
O regime que, como sabe, tratava as colónias por "províncias ultramarinas", é que equiparava as coisas, não querendo que se distinguissem estas das "da metrópole". Como, de facto, não estava, nem no Minho, nem em Trás os Montes, o que se seguiu, depois de 1960, é conhecido.
Naturalmente que esses portugueses consideravam as colónias o seu "lar", com tudo o que essa carga semãntica implica. O problema é que, a partir de determinada altura, os autócnes começaram a não gostar mesmo nada daqueles "senhorios" ou mesmo "arrendatários".
Não acho essas relações de causa-efeito sugeridas pelo PdP nada evidentes. Acho até que a colonização portuguesa pode ter sido, pelo menos nesses princípios, "menos ruim" que outras, segregacionistas e depredatórias.
O problema é que entre princípios e práticas, o fosso poderá ter sido grande. E, problema ainda maior, mesmo a aplicação perfeita desses princípios não teria sido suficiente para tornar o colonialismo aceitável a longo prazo para as populações colonizadas.
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